sexta-feira, janeiro 13, 2012

Ter uma teologia correta não significa que você conhece a Deus


"... durante uma noite escura da alma, comecei a perceber que a salvação acontece através de uma interação misteriosa, indefinível e relacional com Jesus, na qual nos tornamos um com ele. Percebi que a conversão cristã está mais próxima do ato de se apaixonar por alguém do que a compreensão de uma série de conceitos ou idéias. Não quero dizer que não existem idéias verdadeiras, mas preciso lembrar que há algo mais, algo além. Existem idéias verdadeiras envolvidas no casamento e no sexo, mas casamento e sexo também envolvem algo mais, e esse algo mais é misterioso.


Se temos uma personalidade controladora, em que gostamos de conferir as coisas fazendo listas, isso será algo extremamente difícil para nós compreendermos e aceitarmos. Na verdade, Deus não nos deu nenhum controle sobre este “sistema” de relacionamento. Levar alguém a conhecer Jesus não é o mesmo que apresentá-lo a idéias, mas sim a uma divindade pessoal, que vive e interage. Evangelismo, então, parece mais com alguém que vai a um encontro arranjado, às cegas. Deus faz o trabalho, apenas falamos aos outros um pouco sobre ele e onde podem encontrá-lo.


Você pode ter ficado chateado. Talvez ache que estou dizendo que a verdade deve ser jogada fora, que a teologia não importa. Mas não é isso que estou tentando dizer. Apenas pretendo ilustrar que nossa tendência de procurar definir Deus com uma teologia matemática tornou-se um falso deus, ao invés de ser uma seta que aponta para o Deus verdadeiro. A teologia pode tornar-se um ídolo, mas é mais útil como guard rail em uma estrada para o verdadeiro Deus. Teologia é algo muito importante, mas não é Deus; e saber fatos sobre Deus não é o mesmo que conhecer a Deus. Deixe-me dar um exemplo extremo de como isso se tornou algo ruim no Ocidente.


Na época em que estava pensando sobre essas coisas (eu partilho isso no livro, por isso perdoem a repetição), dava aulas no Canadá. Meus alunos eram do primeiro ano da faculdade, e todos haviam crescido na igreja. O nome da matéria era “O Evangelho e a Cultura”. Comecei a aula fazendo uma experiência. Disse à classe que iria compartilhar o evangelho de Jesus, mas deixaria algo de fora. Eu queria que eles descobrissem o que eu tinha “esquecido”. Falei primeiro sobre o pecado e como somos criaturas caídas. Contei algumas histórias e usei algumas ilustrações. Falei sobre o arrependimento, novamente usei algumas histórias. Então falei sobre o perdão de Deus e sobre o céu. Demorei algum tempo fazendo isso. Quando finalmente parei, pedi que a classe dissesse o que eu havia deixado de fora. Depois de 20 minutos ou mais de discussão, nenhum aluno percebeu que eu tinha deixado Jesus de fora. Nenhum! Acredito que eu poderia repetir o mesmo experimento em qualquer sala de aula cristã na América do Norte.


O que comecei a entender, naquela época, é que a conversão cristã é relacional. Não é mais teológica ou intelectual do que um casamento é teológico ou intelectual. Em outras palavras, uma criança poderia tornar-se cristã se tiver um encontro misterioso com Jesus, uma pessoa simples pode se tornar cristã se tiver um encontro misterioso com Cristo, e até mesmo um muçulmano ou budista poderia se tornar cristão se tivesse um encontro relacional misterioso com Cristo. Esta é a única conclusão que eu poderia chegar e que corresponde à realidade em que vivemos, a complexidade das Escrituras, e o convite misterioso que nos é oferecida por Jesus."


Trecho de um texto do Donald Miller que eu li no PavaBlog.

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